por Fatima Flórido Cesar
Tem todo tipo de alimento. E tem todo tipo de fome. Às vezes é fácil, às vezes difícil acertar o alimento capaz de saciar aquela fome.
É que nem sede. Se você tem sede de água, só serve água e não tem palavra para descrever a delícia que é encontrar o que se anseia. Matar a sede.
Tem todo tipo de alimento. Isso também porque somos muitos no dentro da gente. Então, cada faceta do ser pede uma comida que traz promessa de saciedade. Também, se a gente é feita de um jeito tal, tem comida que nem entra.
Por exemplo, tem gente que não gosta de shopping. Eu já adoro: é uma faceta minha que me destrambelha. É vizinha de outras facetas tão diferentes: tipo gostar de escrever, ler Clarice Lispector, ser pescada por filme profundo.
Acho que sou múltipla. Todo mundo é: casa cheia de andares, portas e janelas. Mas acho que sou múltipla demais: tenho fome de shopping, de livro de suspense e de profundo. Ás vezes dá confusão: porque quem me conhece de shopping desconhece o lado do profundo. E vice-versa: causa espanto combinar poesia com consumismo.
Também gosto de livro de suspense, gosto que mora ao lado do amor pela poesia. Poesia é um alimento que me dá muita sustança e se estende para além dos livros: porque vai para música e pra filme. Música sacia os sentidos, pesca sonhos. Aliás, tem alimento que entra na categoria de sonho: sentir profundo, poesia, música, filme especial. Especial, porque nem todo filme faz sonhar. Tem outros tipos que também são alimento: comédia, por exemplo. Mas tem que gostar.
Ontem fui assistir uma comédia: era o que a vida me oferecia. Mas não achei graça e ainda saí de barriga vazia. Tinha fome de filme profundo.
Profundo. Profundo. Palavra batida, né? Mas não tem outra para fazer um laço com sonho. Ah! Tem a palavra encantamento. Isso! Tem fome de encantamento. E tem coisa melhor do que quando essa fome é saciada? A gente ganha um tipo de nutriente que torna a pessoa encantada.
Ah! Tenho outra fome também que para quem conhece meu lado de sonho, pode até estranhar. Adoro novela e já gostei de programa bobo. Dizem que novela é rasa, e deve ser mesmo, mas eu viajo, distraio e sempre tem paixão. Paixão me fisga e ai pode até ser paixão barata. Paixão é um alimento que me atrai desde a adolescência. E continua. Paixão também atrai muita gente: mora ao lado do encantamento.
Também cada conversa é um tipo de alimento. Tem conversa que dá alma ,tem conversa que distrai, tem conversa que suga e tem conversa que entedia. Bem, tem muitos outros tipos. Sou muito sensível à conversa. Conversa sobre roupa me anima. Mas tem conversa que me desperta um desejo de comunicação e dá vontade de não sair de perto. São conversas com pessoas que compartilham o essencial da vida. Mas tem conversa que me deixa murchinha e eu vou ficando distante, distante. Sem alma.
A pessoa tem fome de todo tipo de alimento: desde aqueles que fazem sonhar até aqueles que distraem a gente de um jeito simples, pode ser até bobo ou barato. A gente é muitos e a fome é grande. Quando fica fraquinha é sinal de tristeza, inanição de alma. Quero fome. Muita fome. Quero ficar cheia de vida: desde vestido bonito até verso que diz “a praia inicial da minha vida”(Sophia de Mello Breyner).
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