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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Amor

por Fatima Flórido Cesar

Custei a entender o amor. Diferente da paixão, esta clara e fácil de ser definida. Letras não faltavam para dizer a paixão. Agora penso, nessa hora da vida, que essa transparência do entendimento da paixão se dava no que ela acontece no corpo. Ficava fácil assim compreendê-la: coração batendo, mãos úmidas, pernas trêmulas; corpo todo envolvido na acontecência do encontro.

Já o amor, se me pedissem: defina-o, não sabia. O amor-névoa, o amor-barato, a palavra cessava na sua existência que escapava das mãos e do entendimento. Até que a sabedoria dos anos vem trazendo devagar a compreensão: o amor faz parte do mundo invisível. Não precisa de corpo para sua aparição, surge atrás dos mistérios da vida. Não é que seja desencarnado; mas surge no corpo de outra forma: ou manso no decorrer das horas ou em seu avesso, quando a ameaça da perda traz com toda força a presença do corpo-assustado.

Dizem que primeiro vem a paixão, depois o amor: disso não sei falar. 
Acho simplório até, tão rasa explicação. Só penso que custei a entender por conta da condição de laços invisíveis, esses que tecem a trama do amor, diversa da intensidade, da possessão que constitui o rosto da paixão.

Só penso que custei a entender porque recusava definições fáceis, declarações banais; gestava em mim o sentido de algo que se tecia anos e anos, lado a lado, estreitos nós, invisíveis que sejam, mas que se apresentam na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Subi montanhas, escavei buracos, vislumbrei atrás de nuvens: ganhei força para adentrar esse mistério, passo a mão com leveza em seu rosto, prescruto-o se está bem e, sem ele saber, juro amor eterno. 

Talvez ele tenha entendido antes de mim, mas, sem nada dizer, também faça secretas juras de amor.

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